domingo, 12 de dezembro de 2010

Cristianismo, Direitos Humanos e Democracia

Por: M. Luísa Branco


Slavoj Zizek, filósofo esloveno, numa conferência proferida no Bard College e publicada em português nas edições Pedago, defende um curioso ponto de vista para um autor que se confessa materialista: a herança cristã é demasiado preciosa para ser deixada apenas aos cristãos. O Cristianismo constitui o fundamento dos direitos e liberdades fundamentais do Homem.
Ao contrário do cosmos pagão pré-cristão, baseado numa concepção hierárquica, que sustenta uma ordem social onde cada um tem de agir em conformidade com o lugar que lhe foi atribuído (e de que o sistema de castas hindu é a expressão mais perfeita) o Cristianismo , e também o Budismo, introduzem nesta visão estática, de equilíbrio global, a ideia de que é possível aceder imediatamente ao divino, ao universal, independentemente do lugar que se ocupa na ordem do todo.
Ser bom não significa conformar-nos a desempenhar o papel que nos foi atribuído por um movimento eterno mas poder começar do zero (significado da nova criação de que fala o Novo Testamento). Os Direitos Humanos começam precisamente com a consciência de que somos alguém, com dignidade, independentemente do lugar que ocupamos. E a consciência desta dignidade é solidária: a manutenção da minha dignidade depende do reconhecimento efectivo da dignidade dos outros.
O sentido e superioridade da Democracia consiste também nesta possibilidade de distanciação relativamente a uma determinada estrutura social específica e de todos podermos delinear em conjunto um destino comum em aberto. Ao contrário dos fascismos e proto-fascismos, animados por visões da sociedade onde impera uma imagem organicista, dependendo a manutenção da ordem do acatamento por cada um do lugar que lhe pertence.

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