terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Uma verdade inconveniente. Al Gore

 Por: Florbela Carrola

Duração: 100 minutos

Neste documentário de 2006, o Ex Vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, confronta-nos com uma das questões mais prementes da sociedade pós-moderna: a relação Homem/natureza. Numa explicação clara e rigorosa mas simultaneamente emocional, compreende-se em que consiste o aquecimento global, quais as causas e múltiplas consequências deste problema. Considerando o respeito pelo planeta Terra como uma questão de responsabilidade cívica e moral, Al Gore supera o fatalismo conducente à inacção e propõe um exercício de cidadania activa, ao apelar a uma mudança radical do nosso modo de vida. Convicto de que um futuro diferente é possível e que esse futuro está nas nossas mãos, o Ex Vice-presidente americano apresenta, já na fase final do documentário, soluções para que as actuais e futuras gerações, possam viver num planeta sustentável.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Cristianismo, Direitos Humanos e Democracia

Por: M. Luísa Branco


Slavoj Zizek, filósofo esloveno, numa conferência proferida no Bard College e publicada em português nas edições Pedago, defende um curioso ponto de vista para um autor que se confessa materialista: a herança cristã é demasiado preciosa para ser deixada apenas aos cristãos. O Cristianismo constitui o fundamento dos direitos e liberdades fundamentais do Homem.
Ao contrário do cosmos pagão pré-cristão, baseado numa concepção hierárquica, que sustenta uma ordem social onde cada um tem de agir em conformidade com o lugar que lhe foi atribuído (e de que o sistema de castas hindu é a expressão mais perfeita) o Cristianismo , e também o Budismo, introduzem nesta visão estática, de equilíbrio global, a ideia de que é possível aceder imediatamente ao divino, ao universal, independentemente do lugar que se ocupa na ordem do todo.
Ser bom não significa conformar-nos a desempenhar o papel que nos foi atribuído por um movimento eterno mas poder começar do zero (significado da nova criação de que fala o Novo Testamento). Os Direitos Humanos começam precisamente com a consciência de que somos alguém, com dignidade, independentemente do lugar que ocupamos. E a consciência desta dignidade é solidária: a manutenção da minha dignidade depende do reconhecimento efectivo da dignidade dos outros.
O sentido e superioridade da Democracia consiste também nesta possibilidade de distanciação relativamente a uma determinada estrutura social específica e de todos podermos delinear em conjunto um destino comum em aberto. Ao contrário dos fascismos e proto-fascismos, animados por visões da sociedade onde impera uma imagem organicista, dependendo a manutenção da ordem do acatamento por cada um do lugar que lhe pertence.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

62 anos da DUDH

Por: Florbela Carrola

Faz hoje 62 anos que a ONU publicou os 30 artigos que constituem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Apesar de já serem adultos e de quase tudo já ter sido dito, seguramente que há todo um sem-fim de conquistas a serem alcançadas.

Enquanto escrevo estas linhas, alguns fazem do céu o seu único tecto e muitos outros, esperam nos corredores, pelo dia da morte anunciada. E mesmo que quiséssemos sossegar, ouvimos no silêncio, os gritos mudos das crianças vendidas por um punhado de tostões e amarradas a teares; as mesmas crianças para quem os bancos da escola não passaram de uma miragem.
Atormentamo-nos com os gemidos daqueles que, à míngua de mantimentos, acabam por morrer, talvez contraditoriamente, com uma barriga maior que a nossa, inchada com a indiferença dos senhores que governam o mundo. Pasmamos com o facto de ainda hoje, outros, por terem cometido o simples pecado de dizer o que pensavam, num Estado indiferente à liberdade de expressão, se tenham transformado em prisioneiros de consciência, ou pior ainda, tenham perdido a voz para sempre.
É quase impossível silenciar a revolta que todos sentimos perante a humilhação de que são vítimas tantas mulheres, sujeitas à brutalidade da mutilação genital; da mesma forma que se torna imperativo tornar audíveis os lamentos de todos aqueles que no Séc. XXI, sofrem com o trabalho escravo a que estão sujeitos.
São estas inquietações, as mesmas que nos arrancam à comodidade do dia-a-dia, que reactualizam a necessidade de divulgar os 30 artigos dos Direitos Humanos e relembram que o grande propósito Iluminista da justiça social, igualdade, liberdade e fraternidade está longe de consumado.
Não contava a ONU que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, se esforçasse através do ensino e da educação, por promover o respeito por esses direitos e liberdades? É pois um dever de cidadania denunciar, porque só denunciando impedimos que o esquecimento suavize estas injustiças; lembrar porque só lembrando, tornamos presente o ideal dos Direitos Humanos e, por último, divulgar, porque só quem conhece pode condenar e exigir que a justiça se faça, quando tudo o resto parece falhar.