sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

62 anos da DUDH

Por: Florbela Carrola

Faz hoje 62 anos que a ONU publicou os 30 artigos que constituem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Apesar de já serem adultos e de quase tudo já ter sido dito, seguramente que há todo um sem-fim de conquistas a serem alcançadas.

Enquanto escrevo estas linhas, alguns fazem do céu o seu único tecto e muitos outros, esperam nos corredores, pelo dia da morte anunciada. E mesmo que quiséssemos sossegar, ouvimos no silêncio, os gritos mudos das crianças vendidas por um punhado de tostões e amarradas a teares; as mesmas crianças para quem os bancos da escola não passaram de uma miragem.
Atormentamo-nos com os gemidos daqueles que, à míngua de mantimentos, acabam por morrer, talvez contraditoriamente, com uma barriga maior que a nossa, inchada com a indiferença dos senhores que governam o mundo. Pasmamos com o facto de ainda hoje, outros, por terem cometido o simples pecado de dizer o que pensavam, num Estado indiferente à liberdade de expressão, se tenham transformado em prisioneiros de consciência, ou pior ainda, tenham perdido a voz para sempre.
É quase impossível silenciar a revolta que todos sentimos perante a humilhação de que são vítimas tantas mulheres, sujeitas à brutalidade da mutilação genital; da mesma forma que se torna imperativo tornar audíveis os lamentos de todos aqueles que no Séc. XXI, sofrem com o trabalho escravo a que estão sujeitos.
São estas inquietações, as mesmas que nos arrancam à comodidade do dia-a-dia, que reactualizam a necessidade de divulgar os 30 artigos dos Direitos Humanos e relembram que o grande propósito Iluminista da justiça social, igualdade, liberdade e fraternidade está longe de consumado.
Não contava a ONU que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, se esforçasse através do ensino e da educação, por promover o respeito por esses direitos e liberdades? É pois um dever de cidadania denunciar, porque só denunciando impedimos que o esquecimento suavize estas injustiças; lembrar porque só lembrando, tornamos presente o ideal dos Direitos Humanos e, por último, divulgar, porque só quem conhece pode condenar e exigir que a justiça se faça, quando tudo o resto parece falhar.

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